A notícia da vinda da presidenta
Dilma Rousseff a Alagoas, com a finalidade de inauguração de mais um polo da
Braskem, quando funcionários de mais de 50 instituições federais e outros órgãos
do serviço federal se encontram em greve, fez com que os grevistas, além de
outras organizações civis e movimentos sociais, se organizassem em um ato
unificado com a finalidade de apresentar à presidenta e aos demais presentes, os
problemas pelos quais vêm passando.
Os baixos salários, as péssimas
condições de trabalho e a ineficiência da reforma agrária, foram as
reivindicações que estavam sendo cobradas. Infelizmente, estas questões vêm
sendo deixadas de lado, demonstrando, portanto o caráter neoliberal e
explorador de um governo que se pinta de defensor dos trabalhadores e que ainda
consegue cooptar, por meio de seus discursos, determinados setores dos
movimentos sociais.
Por isso, no dia 17
de agosto, estudantes, técnicos e professores da Universidade Federal de
Alagoas e do Instituto Federal de Alagoas, unificaram-se com outras
categorias que também se encontram em greve no estado e os movimentos de luta
pela reforma agrária. Porém, a
ausência de diálogo e inflexibilidade se iniciou às 6:30 da manhã, quando um
ônibus com manifestantes foi abordado e impedido de passar na via pública que
dava acesso ao local do evento por policiais do BOPE, responsáveis pelo plano
de segurança da vinda da presidenta. Ao longo do dia, as duas principais vias
que davam acesso ao polo industrial de Marechal Deodoro foram fechadas e
barreiras policiais instaladas: só passavam os que tinham autorização prévia.
Além disso, se tinha notícia de que o exército estava espalhado pelas matas ao
redor.
Alguns professores,
estudantes e técnicos do IFAL e da UFAL conseguiram furar os três bloqueios e
somaram-se aos manifestantes parados desde cedo. O reforçado corpo policial,
tentava, a qualquer custo fragmentar a mobilização de recepção aos carros que
chegavam para o evento. Armados com balas de borrachas, bomba de efeitos moral,
cassetetes
e escudos, ameaçavam, a todo o momento, os estudantes, professores e trabalhadores (além de
ameaças verbais e tentativas de boicotar a distribuição de água), tentando a
todo custo impedir a manifestação que tinha cunho pacífico e em nada ameaçava a
integridade física da presidente.
Com toda essa estrutura
repressiva armada, o ato não conseguiu cumprir a função de unificar os
trabalhadores do campo e da cidade (ainda que, mesmo com suas limitações, sua
construção tenha apresentado um canal de diálogo com a classe trabalhadora), tal
qual se propunha, e os movimentos do campo não conseguiram se unir as demais
categorias que estavam no local, o que desencadeou em mobilizações
fragmentadas. Aqueles, visando entregar uma pauta contra a paralisação da
reforma agrária no Brasil, entre outras dos Movimentos de Libertação dos Sem
Terra (MLST), dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Terra, Trabalho e
Liberdade (MTL) e Comissão Pastoral da Terra (CPT), optaram por interditar a AL
101 sul, principal acesso ao polo da Braskem, e com isso impediram a passagem
dos convidados ao evento.
Resultado: em menos
de uma hora, foram agredidos pelos instrumentos de choque do BOPE, da cavalaria
militar, da polícia militar, além de seguranças particulares. Após a ação da
tropa de choque e a repercussão, ainda que pequena na mídia local, provocou uma
troca de acusações entre o governo de Alagoas e o Federal sobre de qual deles
seria a responsabilidade pelo acontecido.
Ainda assim, a
repercussão midiática majoritária foi de teor pejorativo, principalmente com relação aos companheiros dos movimentos do campo, aos
quais foram direcionadas todas as críticas da manifestação. A mídia burguesa de
Alagoas se absteve em expor o movimento grevista das categorias, reiterando o
que vem acontecendo desde o início da greve. O foco novamente foi a
criminalização ao movimento do campo, quando a manifestação era composta de uma
unificação de categorias. Cabe destacar e repudiar as afirmações de algumas
“autoridades” públicas e judiciárias que reforçaram a criminalização,
demonstrando o caráter classista do Estado Brasileiro.
Esses ocorridos
ressaltaram a valorização que o atual governo federal vem dando aos banqueiros,
empreiteiros, grandes empresários e especuladores do capital mundial em
detrimento das reivindicações de várias categorias e de movimentos sociais, e,
em nome de um modelo de desenvolvimento econômico forjado a partir do
investimento público no setor privado. Uma das consequências do capitalismo em
sua roupagem neoliberal se dá a partir da ampliação da exploração das grandes
multinacionais em localidades subdesenvolvidas, aproveitando-se da
matéria-prima abundante, do barateamento da mão de obra (muitas vezes
terceirizada, com direitos flexibilizados) e das isenções de impostos.
A construção da nova fábrica
da Braskem torna Alagoas um dos maiores produtores de PVC da América Latina: o
que temos a comemorar?
Em Alagoas fica às claras o
descaso dos governos estadual e federal com a educação. Recentemente, Alagoas
vem sendo notícia não só pelos baixos índices no IDEB, mas pela desvalorização
do trabalho docente e casos latentes de corrupção em construções e reformas nas
escolas. Todos os cortes de verbas destinados à educação e investimentos
direcionados aos megaeventos, multinacionais, privatizações e outras formas de
incentivo à iniciativa privada que o governo Dilma tem feito, é sentido e muito
pelos estudantes do ensino superior que estão desenvolvendo suas graduações de
maneiras lastimáveis, seja por falta de assistência estudantil, que desemboca
no alto índice de evasão; seja por uma infraestrutura comprometida, em que
salas de aula são insuficientes, assim como laboratórios; seja pela exploração
dos professores e cobrança de produção quantitativa em pesquisas, isto é,
deixando a qualidade e relevância da produção científica de lado - o que não
significa também que o número de bolsas para pesquisa tenham aumentado, a menos
que haja investimento privado.
Encerramos a nota pontuando a
necessidade da construção coletiva entre os setores combativos dos movimentos
sociais em Alagoas, reafirmar a importância de prestarmos solidariedade e
encampar a luta dos companheiros do campo e da cidade, entendendo que a luta
por uma universidade pública, gratuita e de qualidade perpassa pela disputa de
um mundo livre e mais justo!
Assina esta nota: Comando de Mobilização Estudantil da UFAL (CME-UFAL).
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