“EU VEJO UM MUSEU DE GRANDES NOVIDADES...”
Em agosto-setembro de 2011, o contexto de grave precarização
do Ensino Superior impeliu aos professores da UFAL, a exemplo dos
docentes de outras Universidades Federais, a deflagrarem uma greve por
tempo indeterminado. Apesar de se ter um comando de greve composto por
professores politicamente progressistas e bem intencionados, esta
deflagração se deu, para a grande maioria dos professores, por
insatisfação pessoal diante dos salários defasados e da cabal ausência
de condições adequadas para o exercício da profissão que por consciência
das necessidades e limites que se punha diante do movimento docente.
Naquele
momento, não obstante as deliberações de varias assembléias pelo país
terem sido contrárias ao reajuste salarial de 4%, o ANDES aceitou a
proposta do governo, com aval, dentre outras seções locais, da ADUFAL, o
que implicava no esvaziamento da pauta da mobilização, pois os
professores estavam apenas atentos à questão do seu salário; mas o
problema é mais profundo, quando percebemos que estas condições
salariais e de ensino, sua precarização, o aumento inconseqüente do
número de alunos, desembocando no progressivo sucateamento da
Universidade Pública é conseqüência de nossas ações no passado, como por
exemplo a aceitação do REUNI em 2007.
Após quase uma semana da deflagração da assembléia
passada, na qual vários professores permaneceram em atividade normal -
não sendo possível perceber, de fato, o clima de greve na UFAL -, houve
nova assembléia onde votou-se pelo fim da greve. Ao fim, em linhas
gerais, aquela mobilização serviu para mostrar que a categoria docente
ainda é pouco capaz de provocar um movimento que retire a universidade
dos trilhos da inércia cotidiana e a ponha no caminho da luta. A
situação de agora nos relembra muito este passado recente.
Hoje,
depois de sete meses do ocorrido, o movimento docente sente novamente a
necessidade de utilizar desta ferramenta de reivindicação – greve –
para lutar pela garantia de suas exigências. Os docentes da UFAL
aprovaram, na última assembleia, a greve por tempo indeterminado que tem
início neste dia 17 de maio de 2012. Nós estudantes, nos colocamos lado
a lado nesta luta, apoiando e nos disponibilizando para construir as
mobilizações, tal como fizemos nos processos anteriores, por entender
que as reivindicações são legítimas e necessárias e que fazem parte da
luta em defesa de uma educação pública, gratuita e de qualidade, onde é
dever também do estudante tomar um posicionamento. Porém este apoio não
pode ser feito de forma acrítica.
Contudo existem algumas particularidades que esse momento de início de
greve nos coloca na obrigação de apontar, por compreender a importância
das pautas e a necessidade de que elas sejam atendidas. Desde que saiu o
encaminhamento do ANDES de possível greve geral, não vimos acontecer em
nossa universidade (tal como greve passada) atividade alguma por parte
dos professores, além das assembléias tardias convocadas pela ADUFAL e
das paralisações isoladas cumprindo com o calendário nacional, que
viabilizasse uma ampla discussão aprofundada acerca da greve. Passamos
por um momento de extrema apatia onde, salvo algumas poucas exceções,
nem se chegou a debater o assunto em sala de aula. Este fato,
incrementado pela forma como esta fora conduzida, se reflete na última
assembléia dos docentes, onde após a votação da deflagração da greve,
antecedida apenas por seis falas, houve um significativo esvaziamento do
auditório, restando poucos professores para dar andamento às
atividades. Deste modo, concluímos que não obtivemos um processo de
avanço na politização da comunidade acadêmica, o que nos faz visualizar
uma greve na qual a maioria dos professores irá para suas casas e os
estudantes, por não enxergarem outra opção, também assumirão as férias
forçadas, enquanto que a direção do sindicato busca negociar com o
governo federal, até que seja feito um acordo e se reestabeleça a
dinâmica normal da universidade.
No fim da assembléia, o restante dos estudantes lá presentes foram
convocados pela direção do DCE para uma assembléia estudantil no dia
seguinte pela manhã, na intenção de tirar o posicionamento dos discentes
sobre a greve e de que maneira se inserir nesse processo. A assembléia
foi convocada com menos de 24 horas para mobilizar todo o campus.
Implicando em sérias conseqüências para o acontecimento desta. O
resultado foi uma reunião ampliada do DCE, não atingindo quórum para
caracterizar uma assembléia. Estas duras críticas são para nós
extremamente fundamentais para que nosso apoio seja sincero e
construtivo, logo, elas não significam uma tentativa de enfraquecer, mas
de fortalecer o movimento grevista, apontando os erros para que
possamos avançar na luta.
Por isso, propomos uma mobilização comprometida, que a
greve não seja sinônimo de férias e que não se reduza a uma pauta
salarial. Mas, também, que reflita na prática a falta de condições
adequadas de trabalho no cotidiano da universidade. Que a mobilização em
conjunto com todos os outros setores da universidade – já que, todos
são atingidos pela precarização – culminem no atendimento das pautas e
na conscientização de todos quanto aos processos de sucateamento que
estão se dando nas universidades públicas brasileiras. É necessário
colocar, nesta greve, como discussão constante e como pauta, problemas
referentes a este sucateamento do Ensino Superior Público, pois
possibilita a unificação das categorias, fortalecendo ainda mais a luta.
Assina esse texto: Grupo Além do Mito, Gustavo (Comunicação Social), Fernando (Filosofia) e Jadson (Psicologia).
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